Há uma coisa curiosa sobre a decadência moral — ela pode acontecer
bem lentamente. O fato não é que você irá tornar-se rapidamente imoral,
se você não tiver freios morais, mas sim que você irá tornar-se imoral
um dia. A decadência moral que acontece lentamente é tão prejudicial
quanto aquela que acontece de forma rápida.
Considere a música que os nossos filhos ouvem. Estou quase certo de
que meus avós ficaram bastante preocupados com os seus filhos quando
dançaram o que hoje consideramos a música “positivamente limpa” de
Elvis. Entre as gerações, vieram os
Beatles, que tocavam vestidos em ternos e cujos cabelos estilo
moptop eram mais de malandros que de rebeldes. No momento em que eu liguei o rádio, meus pais se opuseram às letras sugestivas do
Aerosmith ou
Red Hot Chili Peppers. Atualmente, não há mais nenhuma música sugestiva, porque “sugestivo” implica uma medida de sutileza.
Chegamos aqui não porque dormimos durante a travessia do
Rubicão 1.
Ao contrário, insistimos que, porque os nossos avós se opuseram
desnecessariamente (em comparação aos nossos pais), nossos pais devem
ter se oposto desnecessariamente (contra nós) e, portanto, precisaríamos
recusar a nos opor desnecessariamente aos nossos filhos, sabendo que os
filhos deles serão muito piores. Chegamos ao ponto de esperar e aceitar
a rebeldia— através da música e a rebeldia moral— como parte normal do
crescimento. Alguns pais começam até a se preocupar quando seus filhos
não se rebelam.
Tudo isso é prova de que, mesmo na igreja, nós aceitamos mais
sugestões da cultura do mundo do que da Palavra de Deus. Tire um momento
e busque em sua concordância bíblica a palavra
adolescente. Tente a palavra
adolescência. Pesquise por
lacuna entre gerações. Veja se você consegue encontrar
cultura jovem.
Nem as palavras, nem os conceitos estão ali. Elas não são categorias
bíblicas. Esses elementos destrutivos comuns em nossos lares devem nos
sugerir que estamos fazendo algo de errado.
No entanto, reprimir não é o suficiente. Ou seja, não foi mera
permissividade que nos colocou nesta confusão. O problema é mais
profundo. Não é que não estamos lidando da forma correta com os jovens,
mas é que ainda admitimos a existência da juventude. A Bíblia reconhece
com alegria a realidade das crianças. Afirma a existência dos adultos. O
que ela não faz é aceitar algo entre eles.
A Bíblia, em nenhum lugar, afirma a existência de uma cultura jovem,
porque, em toda ela, somos encorajados a abraçar uma cultura diferente –
aquela do Reino de Deus. Quando Paulo nos exorta a criar nossos filhos
na instrução e admoestação do Senhor (Efésios 6:1), a raiz da palavra
grega
instrução, traduzida em nossas Bíblias, é
paideia.
Ela comunica a noção de cultura. Isso inclui convicções compartilhadas,
linguagem compartilhada e hábitos do coração compartilhados.
Quando os meus filhos mais velhos ainda eram pequenos, minha esposa e
eu trabalhamos para nos certificar de que a identidade deles estava em
Cristo, em nossa identidade compartilhada como família que, como a de
Josué antes de nós, serviria ao Senhor. Eu incuti isso em meus filhos,
em parte, através de algumas liturgias familiares básicas. Enquanto
Hollywood e
Madison Avenue
buscavam que minha filha visse a si mesma em conformidade com o seu
grupo social, eu queria que ela visse a si mesma à luz de seu Salvador.
Então, ensinei a ela, quando eu perguntava o seu nome, essa pergunta -
resposta: Eu—“Darby, quem são os Sprouls?”. Darby—“Os Sprouls são
livres”. Eu—“E a quem os Sprouls servem?”. Darby—“Os Sprouls servem ao
Rei Jesus”. Eu—“A quem os Sprouls temem?”. Darby—“Os Sprouls não temem
homem nenhum; os Sprouls temem a Deus”.
Darby não é mais uma menininha, e um dia provavelmente não será mais uma
Sproul.
Mas, de fato, a minha filha é uma flecha na minha aljava. Porque a sua
identidade está em Cristo e não em seu grupinho social, ela gasta menos
tempo andando no shopping e mais tempo proclamando Jesus do lado de fora
da clínica de aborto da nossa cidade. Porque a sua identidade está em
Cristo, ela vê seu pai não como um velho rabugento, mas como o homem que
a ama plenamente. Ela está ligada ao princípio de buscar primeiro o
reino de Deus e a sua justiça, porque essa é a nossa vocação.
Talvez o que há de mais lindo em minha filha é que ela não só serve,
mas também ama o seu pai, seu irmão, suas irmãzinhas e seus dois irmãos
menores, que têm sete e três anos de idade. Ela interage com alegria com
jovens e idosos, porque ela ama todos os santos e não apenas aqueles
que compartilham seu senso para moda ou gosto musical.
Nathan Hatch uma vez expôs a infiltração de ideais americanos peculiares na igreja em seu grande livro “
The Democratization of American Christianity”
[A Democratização do Cristianismo Americano]. Em nossos dias, estamos
testemunhando a divisão demográfica do cristianismo americano. Na melhor
das hipóteses, estabelecemos programas com base na idade, sexo e
situação de vida. Na pior das hipóteses, temos uma igreja sob medida
para fãs de música country e
Mountain Dew em um lugar, e uma igreja sob medida para os fãs de jazz e
Starbucks
em outro lugar. Estamos dividindo o que Cristo uniu, somos os
Coríntios, só que nós dividimos a igreja pelo gosto e não pela renda.
Jesus, no entanto, faz de muitos um. Nós somos uma família, um pão,
um só corpo, uma cultura, um amor. Será que a cultura do mundo seria
capaz de dizer sobre a nossa cultura: “Oh, como eles se amam”?
1
- N do E: Atravessar o Rubicão significa tomar uma decisão arriscada,
de maneira irrevogável. Esse termo é uma referência ao evento ocorrido
na história romana, em 49 a.C., quando o imperador Julio César levou
seus soldados a atravessarem o Rio Rubicão, situado ao norte da Itália,
em perseguição a Pompeu, violando, assim, a lei da época que proibia
essa travessia por qualquer autoridade romana acompanhada de sua tropa,
já que isso poderia representar riscos ao poder central do império
romano.
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