Sempre, na história das
controvérsias cristãs, houve um luta para saber qual era o modelo de
governo eclesiástico mais bíblico. O fato é que todos os modelos de
governos eclesiásticos (congregacional, episcopal e presbiteriano) se
baseiam no Novo Testamento. O episcopal concede o poder para o seu
pastor ou bispo, o presbiteriano concede poder aos presbitério da igreja
e o congregacional concede poder aos seus membros ou a um conselho de
irmãos reunidos.
Há tentações em todos os modelos. O episcopal pode
concentrar um poder tão grande na mão do pastor, que ele se torna uma
pessoa acima da crítica e não prestas contas a igreja. O presbiteriano
pode criar uma elite dentro da congregação ou denominação, pois um
pequeno grupo decide sobre os demais. O congregacional pode minar a
autoridade do pastor local. Portanto, não temos como definir um modelo
eclesiástico mais bíblico, pois todos tem pontos fortes e fracos.
A Assembléia de Deus começou com um modelo
congregacional bem definido, aja vista a herança eclesiológica batista,
que é congregacional. O modelo congregacional fica bem claro nas
palavras do pastor assembleiano Alcebiades Pereira dos Vasconcelos, no Mensageiro da Paz, nº 10, de 1959:
No nosso entender, a igreja cristã biblicamente
entendida, governa-se a si mesma, mediante o sistema democrático em que
todos os seus membros livremente podem e devem ouvir e ser ouvidos e ser
ouvidos, votar e ser votados, conforme a sua capacidade pessoal de
servir(…) A igreja cristã, à luz do Novo Testamento, é uma democracia
perfeita, em qual o pastor e seus auxiliares de administração (tenham as
categorias ou denominações que tiverem) não dominam, pois quem domina
sobre ela é Jesus, por mediação do Espírito Santo, sendo o pastor apenas
um servo que lidera os trabalhadores sob guia do mesmo Espírito Santo;
e, neste caso, é expressa e taxativamente proibido ter domínio sobre a
igreja. I Pedro 5.2,3. [1]
Os pentecostais clássicos sempre tiveram uma tendência
para a democracia na igreja, um modelo em que a congregação tinha voz, o
teólogo Myer Pearlman deixa bem claro essa posição:
As primeiras igrejas eram democráticas em seu governo-
circunstância natural em uma comunidade onde o dom do Espírito Santo
estava disponível a todos , e onde toda e qualquer pessoa podia ser
dotada de dons para um ministério especial. É verdade que os apóstolos e
anciãos presidiam às reuniões de negócios e à seleção dos oficiais; mas
tudo se fez em cooperação com a igreja (Atos 6.3-6; 15.22, I Co 16.3,
II Co 8.19, Fp 2.25). E Pearlman completa: Nos dias primitivos não havia
nenhum governo centralizado abrangendo toda a igreja. Cada igreja local
era autônoma e administrava seus próprios negócios com liberdade. [2]
No decorrer do tempo, a Assembléia de Deus, não deixando
de ser congregacional, passou a mesclar com o modelo episcopal e
presbiteriano. Hoje, é comum a figura o pastor-presidente, um verdadeiro
bispo regional. Nas Assembléias de Deus há traços do modelo
presbiteriano, com as convenções ou concílios regionais e nacionais
(CGADB e Conamad). A Assembléia de Deus, portanto, não tem um modelo
eclesiástico puro. O Rev. Antônio Gouvêa Mendonça, comenta em relação a
Assembléia de Deus:
Seu sistema de governo eclesiástico está mais próximo do
congregacionalismo dos batistas por causa da liberdade das Igrejas
locais e da limitação de poderes da Convenção Nacional. Todavia, a
divisão em ministérios regionais semi-autônomos lembra um pouco o
sistema presbiteriano.[3]
Alguns fatos interessantes: em cidades do interior, as
Assembléias de Deus são bem congregacionais, pois a igreja em constantes
assembléias, decidem o rumo da congregação juntamente com o pastor. As
igrejas AD da capital são normalmente divididas em setores, com a figura
presente do pastor-presidente, sendo mais um modelo episcopal. Mas as
congregações das cidades interioranas e da metrópole estão sujeitas a
convenção estadual e nacional, semelhante aos supremos concílios
presbiterianos.
A Assembléia de Deus foi influenciada por várias
denominações, desde de sua eclesiologia até a sua teologia. Exemplo
dessa mistura esteve nas palavras do pastor Thomas B. Barrat, de Oslo,
Noruega em 1914, que disse: “Com respeito à salvação, somos luteranos.
Na forma do batismo pelas águas, somos batistas. Com respeito à
santificação, somos metodistas. Em evangelismo agressivo, somos como o
Exército da Salvação. Porém, com respeito ao batismo com o Espírito
Santo, somos pentecostais!”
O lamentável é o fato de muitas igrejas Assembléia de
Deus aderindo a um modelo episcopal, abandonado a tradição
congregacional. Mais o modelo episcopal, hoje adotado não é o mesmo dos
metodistas ou anglicanos, mas sim das igrejas neopentecostais, onde a
figura do líder é centralizadora, um modelo episcopal levado ao extremo.
Referências Bibliográficas:
01.ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007. p 338.
02. PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia. 8 ed. São Paulo: Vida, 1984. p 225.
03. MENDONÇA, Antônio Gouvêa e FILHO, Prócoro Velasques. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Edições Loyola, 1990. p 51
Autor: Gutierres Siqueira, publicado no Blog Logos News.
Nenhum comentário:
Postar um comentário