A questão do dízimo
Jean Michel in Estudos Bíblicos11
O QUE SIGNIFICA DÍZIMO?
Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, dízimo, do latim decimu, significa a décima parte de um todo.
A ORIGEM DO DÍZIMO COMO OFERTA
Muitos acreditam que o dízimo surgiu segundo a lei mosaica, mas isso está errado, essa prática iniciou-se antes, com o patriarca Abraão e não tinha nenhuma relação com qualquer coisa que possa ser chamada de lei. Aproveitando desde já este momento, vamos a questão: Como surgiu o dízimo? Tudo começa na batalha de quatro reis contra cinco (Gênesis 14). Batalha aqui, batalha lá, chega um momento que sobra até para Ló, pois o mesmo estava morando em Sodoma (região de conflito) depois que se separou de Abraão (Gn 13:11). Ló então foi levado cativo. Abraão sabendo disto, reuniu trezentos e dezoito criados (o que seria o início do exército israelita) e foi atrás de seu sobrinho. Como o Senhor estava com Abraão, nada o impediu de trazer Ló e tudo/todos os que estavam cativo juntamente com ele.
Nisto, entra em cena Melquisedeque, rei de Salém (Jerusalém) e sacerdote de Deus. E Abraão deu-lhe dízimo de tudo (Gn 14:20).
- Note que o dízimo nesta passagem se apresenta como oferta, pois Abraão deu o dízimo a Melquisedeque. Só que muitos ainda teimam em falar que Abraão pagou o dízimo. O próprio “deu-lhe o dízimo” não denota nenhuma obrigação ou voto, mas sim uma oferta voluntária.
- Não há nenhuma outra passagem que mostra Abraão dizimando, o que prova que isso foi um fato isolado.
- O dízimo de Abraão não veio da sua renda particular, mas dos despojos da guerra (Hb 7:4). E o que são despojos? Segundo o dicionário, tudo aquilo que se retira de um indivíduo ou sociedade com uso da violência.
- Um fato interessante é que em Hebreus 7:9 nos diz que a tribo de Levi pagou os dízimos através de Abraão. Sim, ainda não estando na terra, aquele que recebia os dízimos, pagou os dízimos!
O DÍZIMO SE TRANSFORMA EM VOTO
“E Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir; e eu em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR me será por Deus; e esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo.” (Gênesis 28:20-21)
- Outrora o dízimo havia se apresentado como oferta, agora nesta passagem está como voto. E o que é um voto? Promessa solene com que nos obrigamos para com Deus, segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.
- O dízimo de Jacó não foi por obrigação da lei judaica (se bem que ela nem existia ainda), mas por uma promessa pessoal entre ele e Deus.
O DÍZIMO FINALMENTE VIRA LEI…
“Porque os dízimos dos filhos de Israel, que oferecerem ao SENHOR em oferta alçada, tenho dado por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão.” (Números 18:24)
Eis o ponto essencial em que chegamos agora!
- Note que eles ofereciam o dízimo em oferta alçada.
- A lei do dízimo era válida somente para o povo israelita.
- Para ser mais específico, as 11 tribos pagavam o dízimo para a tribo de Levi, que era responsável pelo sacerdócio (Nm 18:1,2 e 21).
Indo mais fundo…
- Ao final de cada três anos, os dízimos da colheita do terceiro ano eram armazenados em sua própria cidade (Dt 14:28).
- Então, vinham os levitas (que não possuiam propriedade nem herança), o estrangeiro, o órfão, e a viúva, que viviam na cidade e comiam o dízimo (Dt 14:29). Comiam o dízimo!? Ora, o dízimo não era pago em dinheiro, mas sim do que era produzido pelo campo. Talvez alguns argumentem que não havia dinheiro naquele tempo, mas pelas Escrituras provo o contrário: “…Abrão muito rico em gado, em prata e em ouro.” (Gn 13:2)
- Ainda nesse dízimo que os levitas recebiam, eles tinham que separar uma parte, o dízimo dos dízimos, que era destinado ao sacerdote, no caso Arão (Nm 18:26-28).
- Caso um hebreu preferisse dedicar a décima parte da produção de seus cereais ou frutas, na forma de valor monetário, tinha permissão de fazê-lo, porém, um quinto dessa soma deveria ser adicionado. Mas não lhe era permitido redimir a décima parte de seus rebanhos de gado vacum (vacas, bois e novilhos) e de gado miúdo dessa maneira (Lv 27:30-33).
A APELAÇÃO
É notável que quando não está entrando dinheiro no caixa da igreja, o pastor local, parte para apelação! Geralmente isso está ligado a pressão ou medo de represálias dos “superiores da ordem eclesiástica”. Logo, o pastor tem que tomar alguma atitude rapidamente para que os membros contribuiam, ou dizimem no caso. Ai é aquela velha história, o sujeito volta no Velho Testamento e diz o versículo tão conhecido:
“Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes. E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; e a vossa vide no campo não será estéril, diz o SENHOR dos Exércitos.” (Malaquias 3:10-11)
Ai começa: “Irmãos e irmãs, vamos começar a dizimar mais, aqui está, é mandamento do Senhor! Como iremos pagar a luz, água, comprar instrumentos e etc…? Fora ainda, que o Senhor vai te retribuir 100 vezes mais e as portas do céu vão se escancarar!”
Depois de mostrar os porquês e as vantagens em pagar o dízimo, mostra-se as desvantagens em não pagar:
Neste ponto a apelação é pesada e má, fora ainda que impõe medo nos ouvintes: “Olha, se não dizimarem, verão quem é o devorador! Enfrentarão o diabo sem a ajuda de Deus! Suas roupas começarão a rasgar do nada! Vocês serão demitidos do emprego! Sua vida conjugal irá fracassar! Vocês ficarão muito doentes! Vocês serão assaltados! Etc.” O que é isso!? Ouvindo uma pregação dessa, até eu começo a dizimar!!! Eu seria o primeiro da fila em pegar o envolope!!!
Mas como descobri a verdade acerca desta questão nas Escrituras, nenhuma doutrina de homem pode me persuadir a tal prática.
- “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa…” não se refere a igreja, mas sim ao templo de Jerusalém (2 Cr 7:2).
- “Trazei os dízimos para que haja mantimento…” não se refere a dinheiro para comprar mantimento, mas sim no próprio mantimento, ou seja, na produção do campo como aprendido sobre o dízimo anteriormente.
- O interessante é que em Apocalipse 1:5-6 nos diz que fomos feitos reis e sacerdotes (lembrou de Melquisedeque?). Se o dízimo fosse válido, não seria para o pastor que teriamos que pagar, mas sim um para o outro…
A ABOLIÇÃO DA LEI MOSAICA
Meus amados, a lei do Velho Testamento caiu! Já não estamos mais debaixo deste fardo que os pais não conseguiram cumprir! Leiam Romanos 10:4, Gálatas 3:23-25 e Efésios 2:15. A únicas regras que estão no Velho Testamento e que o cristão deve cumprir são os 9 mandamentos, com a exceção do sábado, em que nenhum momento é citado no Novo Testamento. As leis restantes, incluindo o dízimo, já não são necessárias, pois não vivemos mais segundo o domínio da lei, mas pela graça do nosso Senhor Jesus Cristo (Jo 1:17, Lc 16:16, Rm 5:20, Rm 6:14, Tt 2:11, Gl 5:4…)
Quem ainda deseja seguir a lei, saiba que ao cumprir um ponto, deve-se cumprir todos os outros. Se você deseja dizimar conforme a lei, também terá que sacrificar cordeiros, evitar carne de porco, dar chibatadas em desobedientes, condenar a morte, etc. Mas lembre-se, por tudo isto estará debaixo de maldição. E saiba também, que essa insistência pregada por muitos em obedecer um item da lei, no caso o dízimo, não vem de Deus (Gl 3:10-13 e 5:1-8).
Que fique bem claro que não sou contra ninguém que deseja contribuir com 10%, mas sim contra a doutrina do dízimo cristão. Se você fez um voto em dar 10%, 20%, 30% ou mais do seu salário, sem problemas, o errado é estabelecer isto como mandamento do Senhor. Contribua conforme seu coração, pois Deus ama quem dá com alegria (2 Cor 9:7).
FINALIZANDO…
Talvez muitos se perguntem:
Como a igreja local irá se bancar financeiramente?
Muito simples: ofertas voluntárias. Eu não concordo com algumas doutrinas da Congregação Cristã no Brasil, mas posso afirmar que ela está certíssima ao menos num ponto: não pregam sobre a doutrina do dízimo, pois sabem que já não é mais válido. Mas como então entra dinheiro no caixa? Como eles constroem seus templos? Como compram instrumentos musicais? etc. Muitos acreditam que se a obrigação do dízimo for exterminada, não entrará dinheiro na igreja, mas pelo contrário, a Congregação Cristã arrecada na forma de ofertas, e às vezes pode até sair mais que o dízimo, pois não é limitado em 10%, mas sim segundo o coração de cada um, que não ofertam por imposição, mas sim por amor.
Como o pastor irá se sustentar?
Acerca do sustento daquele que dedica a obra integralmente, vamos analisar as Escrituras:
- Paulo recebeu o salário de determinadas igrejas para servir os crentes em Corinto (2 Co 11:8)
- O pastor que emprega tempo integral é digno do seu salário (1 Tm 5:18)
- Paulo reforça a idéia acima (1 Co 9:4-14)
-> Vendo essas passagens, compreendemos que o salário do pastor ou aquele que se dedica ao Evangelho não é errado, mas Paulo também nos diz que o amor supera o direito:
“Se outros têm direito de ser sustentados por vocês, não o temos nós ainda mais? Mas nós nunca usamos desse direito. Pelo contrário, suportamos tudo para não colocar obstáculo algum ao evangelho de Cristo.” (1 Co 9 :12 NVI)
Em outras palavras, Paulo nos diz que se receber salário é dar motivo de escândalo e impede que as pessoas venham a Cristo, este direito não será usado. Sim, o amor supera o direito.
Para entender melhor pense o seguinte:
Você ganhará 100 almas para Cristo recebendo salário.
Você ganhará mais 10 almas para Cristo caso renúncie seu salário (direito). Essas 10 almas são daquelas: “Ah, o salário que o pastor ganha é para pagar a faculdade da filha dele…”
Qual você prefere? Continuar recebendo seu salário pelas 100 almas ou abnegar seu direito para ganhar mais 10 almas? O direito ou o amor? É isso que Paulo nos ensina! Veja:
- Ele sendo livre, se fez servo!
- Tornou-se judeu, para ganhar os judeus!
- Tornou-se como se estivesse sujeito à lei, a fim de ganhar os que estão debaixo da lei!
- Tornou-se para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei!
- Se fez como fraco, para ganhar os fracos!
(1 Co 9:15-22).
(Ei, Paulo trabalhava sim, e deu ordem para trabalhar: At 18:1-3, 1 Tess 4:11-12 e 2 Tess 3:8-10.)
“O amor supera o direito.” ____________________________________________
Dízimos e ofertas no Novo Testamento |
Por Pr. Olivar Basílio | |
Estudo para Terça-feira, 22/04/2008 Ai de vós escribas e fariseus hipócritas! Dais o dízimo do endro, da hortelã e do cominho, mas desprezais o mais importante da lei, a justiça, a misericórdia e a fé. Devíeis, porém, fazer nas coisas, sem omitir aquelas. INTRODUÇÃO Há entre nós aqueles que, por razões espúrias, fazem verdadeira oposição à entrega de dízimos e ofertas, pregando e ensinando contra a doutrina da contribuição tão vasta nas sagradas escrituras. Infelizmente, procedem como os fariseus e os escribas que Jesus denunciou em Mt 23:13. Voltamos a afirmar que o sistema de contribuições nasceu por ato voluntário, como resultado de gratidão e de amor da criatura pelo criador e pelo reconhecimento de que o Senhor é dono de tudo; por isso, nasce no coração do homem o anseio por agradá-Lo, SL 116:12. I – O DINHEIRO NO N.T Para entendermos a razão dos oposicionistas quanto à contribuição para a obra de Deus, precisamos tratar da questão dinheiro e da do tesouro à luz do N.T. 1.1 - O dinheiro é um instrumento usado para transações comerciais e é produzido pelo trabalho efetivo de cada um; pelo suor do rosto, Gn 3.19, comemos o nosso pão cotidiano. (O suor transforma-se em dinheiro que, por sua vez, se transforma em pão). 1.2 - A natureza do dinheiro O dinheiro é de natureza terrena; regra geral, seu acúmulo torna-se um laço na vida do homem, pois ele, acumulado, torna-se um tesouro dominante e faz do homem um servo. Ele tem poder em si mesmo. Exerce poder sobre as pessoas, que terminam por adorá-lo, Mt 6:24. 1.3 – O Dinheiro se torna um Senhor e deus Quando Jesus disse que não podíamos servir a dois senhores em MT 6:24, Ele falava de Deus e o dinheiro; deixou claro que ou amamos a Deus ou a riqueza. “Não podeis servir a Deus e a Mamom” (riqueza), foi o que nos disse Jesus. Mamom é um dos rivais que rouba a adoração do homem. 1.4 – O amor ao dinheiro I TM 6:10 Embora o dinheiro seja indispensável à vida, devemos ter grande cuidado no trato com ele, uma vez que Paulo nos adverte que o amor a ele é a raiz de todos os males; chama esse amor de cobiça e diz que, muitos, por causa desse amor, desviaram-se da fé. - O amor ao dinheiro do Jovem de Mt 19:21,22 o fez desviar-se da fé; - O amor ao dinheiro de Ananias e Safira At 5:1-12 os levou à morte. 1.5 – As características do dinheiro como um deus. 1.5.1 – Sensação de onipotência (Todo Poderoso) Dn 4:28-32; 1.5.2 – Sensação onipresença (Influência em todos lugares); 1.5.3 – Sensação de onisciência (Compra todas as informações); 1.5.4 – Sensação de liberdade (Não se submete a ninguém Lc 18:1-5; 1.5.5 – Oferece segurança; 1.5.6 – Exige fidelidade e amor que pertencem somente a Deus Mt 6:19-21. Não se pode generalizar, mas o que se vê, na prática, é que a maioria das pessoas endinheiradas procede de forma a evidenciar muitas das características de um deus. 1.6 - Rico é quem tem muito dinheiro Esse é um conceito humano e antibíblico, pois a bíblia ensina que a verdadeira riqueza é a espiritual, veja: Louco, esta noite pedirão a tua alma. Então, o que tens preparado, para quem será? Lc 12:15-21 As cartas enviadas à Esmirna (Ap 2:8-9) e à Laodicéia (Ap. 3:14-17) nos dão uma visão correta de quem é rico para com Deus. A primeira era uma igreja sem propriedades, sem posses, mas Deus a chamou de rica; a segunda se gabava de ser rica e de nada ter falta, mas Deus disse que ela era pobre, miserável e desgraçada, embora possuísse muitas riquezas terrenas. Uma pessoa pode ter muitos bens e ser pobre para com DEUS. Alguém disse que somos pobres quando o que temos é somente nosso; e ricos quando o que temos é repartido com o próximo necessitado. 1.7 - Como Deus se relaciona com a Riqueza As riquezas terrenas foram criadas por Deus e a Ele pertencem (IS 45 .3; Sl 24.1); Ele pode dá-las a que quiser, Mt 20 .14,15. Essa verdade está claramente dita por Davi em I Cr 29:12: “E riquezas e glória vem de diante de ti; tu dominas sobre tudo. Nas tuas mãos há força e poder para engrandecer e dar força a tudo.” E mais, o profeta Ageu profetiza: “Minha é a prata, e meu é o ouro, diz o Senhor dos Exércitos”. De forma cristalina, os textos nos declaram que todo o ouro, toda a prata e todos os tesouros da terra são do senhor e Ele os dá a quem quer. Então, havemos de concluir que tudo que somos e tudo que temos, também, pertencem a Ele, inclusive, nosso carro, nossa casa e, até, nossa poupança? 1.8 - Só Para Refletir a) Como você se relaciona com dinheiro? b) O dinheiro ou os bens que Deus lhe concedeu serviram para aumentar sua comunhão com Ele ou para diminuí-la? c) Agora que você tem dinheiro, você tem mais, ou menos, tempo para adorá-Lo? d) Você continua uma pessoa simples, humilde, submissa ou agora você já não nutre o respeito pelo seu pastor? e) Você usa sua riqueza somente para as coisas úteis ou sua casa encheu-se de objetos perigosos para sua fé? f) Tudo que você tem foi fielmente dizimado? Ou sua riqueza acumulada é mais que a soma de seus dízimos? PENSE NISSO!!! II - O DÍZIMO NO NOVO TESTAMENTO Depois dessas considerações sobre o dinheiro, penso que estamos amadurecidos para tratarmos do dízimo no NT. 2.1 - O DÍZIMO NO NOVO TESTAMENTO Há pouquíssimas referências no NT acerca da obrigatoriedade da entrega dos dízimos e, se lidas icti oculi, isto é, a vôo de pássaro, o leitor não perceberá a força mandamental dos preceitos nelas contidos. E se um leitor não tiver certo nível de conhecimento de português, facilmente, será induzido a crer que não há mandamentos na nova aliança que determinam a devolução do dízimo, principalmente aqueles crentes que já possuem certa tendência avara. 2.2 - FARISEUS DIZIMISTAS LEGALISTAS- Mt 23.23 “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas”. O texto citado foi uma confrontação de Jesus com as principais religiões do seu tempo, denunciando a hipocrisia e os erros doutrinários dos mesmos; a citação desse versículo encontra-se, também, em Lc. 11:42; porém, o conteúdo de Mateus é mais completo. Da análise extraímos: a) Jesus afirma que os fariseus e escribas eram dizimistas fiéis até dos produtos da hortaliça. “Pois que dizimais a hortelã, o endro e cominho...”; contudo, b) Jesus os acusa de desprezar os preceitos da lei que são mais importantes do que o dizimar com tanto critério: “e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia, e a fé”. Quando ele diz mais importante da lei, fica claro que tanto o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, como o juízo, a misericórdia e a fé, são partes integrantes da mesma lei, só que os preceitos que ordenam o exercício do juízo, da misericórdia e da fé, eram mais importantes. c) Jesus diz que eles deviam (sentido de obrigação) fazer estas coisas, isto é exercer o juízo, a misericórdia e a fé. d) Jesus disse que não deveriam omitir a entrega dos dízimos: “não omitir aquelas”. Significa não omitir a entrega dos dízimos da hortelã, do endro e do cominho, isto é, não deixar de entregá-los, embora fossem menos importantes do que o exercício da justiça, da misericórdia e da fé. O fato de Jesus enfatizar e dar maior ênfase ao exercício da justiça, da misericórdia, e da fé, se dá pelo fato de que tais atributos são superiores e mais agradáveis a Deus do que a atitude de entrega dos dízimos, principalmente quando esse ato está destituído do sentimento do reconhecimento da soberania de Deus e do sentimento de gratidão. Regra geral, nesses casos, o que há é a intenção subjetiva do dizimista de obter lucros e recompensas com o ato de dizimar; nisso eles se aproximam dos fariseus. Logo, se alguém puder exercer os preceitos mandamentais da lei que são mais importantes (justiça, misericórdia e fé), poderá, com certeza, exercer os menos importantes (dizimar as coisas mínimas da hortaliça). Na interpretação de qualquer lei, não podemos deixar de aplicar a regra que ensina que “quem pode o mais também pode o menos”. Todavia, o inverso não é verdadeiro (quem pode o menos nem sempre pode o mais). Exemplificando: um atleta que consegue correr em uma maratona de 50 km poderá, com facilidade, competir em todas, cuja distância seja inferior a 50 km; todavia, um atleta cuja participação não excedeu 15 km, dificilmente chegará ao final de uma maratona de 50 km. Extrai-se, pois do texto citado que Jesus aprovou a atitude de entrega dos dízimos pelos fariseus, exortou-os a continuar praticando-o; porém, repreendeu-os por não perceberem o mais importante da lei e o mais agradável a Deus: a justiça (Mt 5:20, Jo 7:24, Rm 8:4) a misericórdia (Mt 9:13, Tg 2:13) e a fé (Hb 11:6, II Co 5:7). 2.3 - A EXCESSIVA CONFIANÇA NO ATO DE DIZIMAR - Lc 18.9-14 O texto acima nos ajuda a compreender a atitude equivocada daqueles que vendem a ilusão de que os crentes podem ser abençoados, ou que Deus é obrigado a recompensar alguém, porque entregou os dízimos. Na parábola do fariseu e do publicano, Jesus nos conta da oração de ambos: o fariseu se apresentou a Deus com todas as suas obras, inclusive, se gabando de não ser como o publicano “pecador” e de que dava o “dízimo de tudo”. O publicano alimentou no coração a ilusão de que seria, ou era, abençoado e aceito diante de Deus por causa dessas obras. O publicano, ao contrário, não tinha, ou não apresentou, nenhuma obra diante de Deus, nenhuma virtude; pelo contrário, não se sentiu digno, sequer, de levantar os olhos ao céu, numa atitude de respeito e de reconhecimento da soberania de Deus, tinha a convicção de que nenhuma obra, por maior que seja, tem valor algum diante de Deus, Is. 64:6. Jesus concluiu o ensinamento, rebatendo àqueles que confiam em si mesmos ou naquilo que fazem; disse que o fariseu com toda sua pompa e autoconfiança nas obras que apresentou diante de Deus, voltou para casa sem ser justificado, mas o publicano, a quem o fariseu desprezou, chamando-o de pecador, que nada apresentou diante do Senhor, foi aceito diante de Deus e voltou recompensado para casa. 2.4 - O ENSINO DO TEXTO DE HEBREUS 7:1 SOBRE OS DÍZIMOS Essa é última referência sobre os dízimos no NT e algumas lições podem ser daqui extraídas. Vejamos: a) Melquisedeque - Tipo de Cristo - Hb 7:1-3, recebeu o dízimo de Abraão. Melquisedeque como Sacerdote do Deus Altíssimo, sendo Rei de Paz e Rei de Justiça, tipifica o Senhor Jesus, o Messias; Is 9.6 comparado com Mt 2:2, 5.35, I Tm 1:17, 6:15, Ap. 19:16. b) Melquisedeque era maior que Abraão (Hb 7:4); recebeu o dízimo de Abraão, embora Abraão seja considerado o pai da fé - Gl 3.7, o amigo de Deus - Tg 2:13 e pai de todos nós - Rm 4.16 que andamos em suas pisadas - Rm 4:12; sendo o maior nome na história do povo de Deus, o texto nos chama a atenção para a grandeza de Melquisedeque que era maior do que Abraão, “a quem até o patriarca Abraão deu o dízimo dos despojos”... c) Melquisedque sacerdote eterno – Hb 7:6,8,17 O verso 9 ensina que, por meio de Abraão, pai da nação de Israel, até Levi, o cabeça da tribo sacerdotal, pagou dízimos a Melquisedeque. Os versos 6, 8,17 nos ensinam que Melquisedeque era sacerdote sem genealogia contada, isto é, sem princípio narrado. Diz o escritor cristão que ele ainda vivia em seus dias e era de uma ordem sacerdotal superior a de Levi; com essa argumentação, o texto nos faz perceber o direito desse sacerdócio que é superior por causa de sua natureza celestial e eterna de receber o pagamento do sacerdócio terreno mortal (Hb. 7:8) e Cristo foi constituído sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque, cuja ordem sacerdotal veio para aperfeiçoar a relação entre Deus e os homens - Hb. 7:11,12 d) Melquisedeque o sacerdócio da perfeição O escritor cristão diz que a perfeição do sacerdócio não veio por meio do sacerdócio arônico, que era constituído de homens mortais, Hb. 7:8,11, mas mudou-se a ordem sacerdotal e mudou-se a lei com o objetivo de aperfeiçoar, pela virtude da vida incorruptível, e introduzir uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus - Hb. 7:19. Sendo Cristo fiador de um concerto melhor, estabelecido pelo seu sangue - Hb 7:22. CONCLUSÃO Se o sistema de contribuição (ofertas, dízimos etc.), aparece desde Gênesis, antes da lei, com as primeiras ofertas de Caim e Abel, e a Bíblia faz menção de pagamento de dízimos a partir da vida de Abraão, Gn 14.20, como admitir que alguém vivendo como Abraão, sob a ordem de um sacerdócio perfeito e eterno, se esquive de pagar os dízimos, tendo em vista que esse sacerdócio foi estabelecido para aperfeiçoar a relação dos adoradores e seu Deus, e aproximar, definitivamente, o pecador do salvador? Se no NT não é dado ênfase ao dízimo, havendo pouquíssimas referências, é por entender que os crentes já superaram o espírito materialista e de ingratidão a Deus, sabendo, perfeitamente, se conduzirem de forma a não se tornarem escravos de dinheiro, usurpando a parte que não é deles: o dízimo. |